13 de novembro de 2008

Lembranças da Redinha e da Rua Apodi

Estou chegando naquela idade em que as pessoas próximas começam a morrer.
Ano passado foi-se minha tia mais velha, por parte de pai.
Este ano foi-se meu tio mais velho, por parte de mãe.

Tia Lúcia morreu enquanto fazia uma transfusão de sangue. Parece que tinha um problema renal e que é bastante perigoso fazer essas transfusões pela probabilidade de ter um ataque cardíaco. Foi o que aconteceu.

Tio Diniz saiu de sua casa na Redinha (uma praia urbana de Natal) para comprar um material de construção que faltou, fez um retorno na estrada e o veículo do BOPE, que estava em alta velocidade por atender um chamado, bateu nele. Tio morreu na hora.

Foto: Jornal de Hoje


Olhem que retorno ridículo. Ele não viu a viatura e a viatura não o viu por causa das plantas do canteiro.

Lembrei-me de todas as vezes que quase morri, que quase minha mãe bateu o carro, todos os quase acidentes terríveis que evitamos. De repente ele faz o retorno e não teve tempo de voltar, do Bope desviar... foi em cheio. Era a hora dele.

Eu espero sinceramente que toda a visibilidade esse acidente teve por causa do meu tio (ele é uma figura pública) sirva de catalizador para o governo se mexer, quantos pedestres ainda terão de ser atropelados, quantos acidentes de carros, quantas mortes ainda terão que acontecer para arrumarem o trânsito da Zona Norte?

Foto: NoMinuto.com


A família está em choque, afinal se alguém fica doente todos se preparam, um acidente de supetão deixa qualquer um dormente. Tio Diniz era muito apegado a família e servia de elo entre os irmãos e a família da minha avó, tias, primos e descendentes.

Eu não me dava bem com ele, nós brigamos feio quando eu tinha uns 16 anos e nunca mais fui na casa dele, a Redinha da minha infância, das minhas lembranças, a minha formação. Cresci vendo os quadros dele, veraneando na sua casa, recebendo ensinamentos de etiqueta hilários. Todos os primos também, ninguém esquece o "cadê Zazá" (quando utilizavam os talheres abrindo os cotovelos em asa), "olha o tubarão" (quando levantavam o dedinho para beber no copo) , "vai voaaar" (quando seguravam a xícara levantando o cotovelo)... era o grande incentivador cultural da família, e logo eu que sou a mais "culta" era a mais chata, para ele.

Depois de alguns anos, passamos a tolerar a presença um do outro nas festas e encontros de família, no último anos ele falou várias vezes para mainha que queria se aproximar de mim, mas nunca me tratava bem quando nos encontrávamos.

É claro que eu estou triste, pela primeira vez chorei num velório e senti de verdade a perda (por morte) de alguém. Ele era família próxima, e apesar de eu não vê-lo com freqüência, ele estava sempre por perto, minha mãe costumava vê-lo toda semana em almoços dos irmãos, na casa da minha tia, falava sempre por telefone e na internet, ou seja, eu sempre tinha notícia, além dos livros que vez ou outra ele me mandava para mim.

Além disso, eu o tinha no Orkut que dedico só para familiares e sempre recebia mensagens dele para as pessoas de sua lista com programações culturais, poemas e reportagens.

Ano passado, depois de muitos anos, passei o Natal com a família, incluindo-o. Foi muito legal e engraçado, até tenho boas lembranças recentes dele.

Minha mãe quer que eu escreva um discurso (pediu que eu lesse também, mas eu já me recusei) para a missa de 7º dia e eu não sei se serei capaz de fazer. Eu gosto do meu tio, mas eu sinto que seria uma hipocrisia muito grande, até porque todos esperariam apenas coisas boas sobre ele. Eu não poderia fazer isso, primeiro porque eu sempre reconheço os defeitos de todas as pessoas próximas e não poderia agir como se ele fosse só coisas boas. Tio Diniz era uma artista excelente e uma pessoa muito espirituosa, alegre e engraçada, mas também podia ser muito cruel. Ele me magoou muito e as palavras que ele disse na última briga que tivemos foram por muito tempo uma ferida e trauma para mim. Em todos os momentos de depressão eu lembrava das palavras dele. Eu não poderia enfeitar um discurso. (Na foto, Diniz Grilo e minha mãe, Amélia)

Cada um tem a sua dor, alguns choram, gritam, outros ficam parecendo um zumbi. Eu não queria que ele fosse embora, não queria que a família perdesse uma "perna". Eu não sei e ninguém sabe como vão ficar as coisas, os encontros, os almoços...

Uma coisa é certa, família é bicho estranho. Não importa as desavenças, na hora da dor todo mundo se une. Meus primos brigados nos EUA se reconciliaram, meus tios se aproximaram, minha prima que era odiosa há alguns anos deu muito apoio às tias. Minha tia até ficou fazendo carinho na minha mão, contato que não tínhamos há pelo menos dez anos... Fica o desejo de que essa situação dê perspectiva para não se cometer os mesmos erros, para não ter que se unir só quando morre alguém.

Depois de quase seis anos voltarei à Redinha. Vou ver os quadros que ele estava terminando para a exposição que teria no fim do mês, como ficou a reforma da casa... Meus tios me deram os livros e discos dele, como era seu desejo. Acho que vamos fazer um inventário dos quadros também, para uma futura exposição.

Apesar de todo o sofrimento, todo mundo pensou e riu um pouco, pois que só faltava ele mesmo aparecer no velório e no enterro dele e fazer comentários sobre os modos das pessoas, dos jornalistas, das roupas, dos "falsos". Minha mãe praticamente foi única da família que teve condições de dar as entrevistas, nos disse depois que só no que pensava enquanto falava com os jornalista era nele dizendo "olhe, eu sou uma figura pública! No meu funeral não vão dizer nada 'maracatu'"...

Algumas reportagens que saíram:

Tribuna do Norte I, Tribuna do Norte II

Diário de Natal I, Diário de Natal II, Diário de Natal III

Jornal de Hoje I, Jornal de Hoje II

No Minuto I, No Minuto II, No Minuto III, No Minuto IV

DN Online I, DN Online II, DN Online III, DN Online IV

20 de outubro de 2008

Desilusão

Estava eu sentada no vaso fazendo xixi quando tive um insight: eu posso traduzir meu sobrenome em kanji! Oh!! Que legal!! Finalmente uma vantagem em ter como sobrenome o nome de um inseto tão chato. (Y)

Depois de lavar as mãos, é claro, vim para o computador fazer as devidas buscas...

e descubro que "Grilo", em japonês, é コオロギ.

COMO ASSIM, コオロギ?? Katakana? Tem alguma coisa errada aí!

Não tem. A Wikipedia japonesa confirmou :(

Saudades dos meus três minutos de felicidade plena.

20 de julho de 2008

Grande bosta

Sempre tive muito cuidado em não falar sobre essas coisas para não "ofender Deus", não receber castigo e até mesmo pra manter a integridade bela e milagrosa da minha existência. Mas eu cansei, sabe. Eu odeio a minha vida, eu odeio tudo, odeio as pessoas, detesto como eu sou, eu estou com muita, muita, mas bastante raiva mesmo, odeio essa sensibilidade exarcebada, um saco. Um saco! Odeio ficar triste o tempo todo. Odeio ficar alegre com coisas bobas e ter sempre uma felicidade tão efêmera.

Odeio essa agonia e depressão constante, odeio o modo como eu dou tanto valor as coisas, como subjetivamente tudo é tão importante mas eu não demonstro com ações eficientes. Odeio a preguiça mas principalmente a apatia. Apatia é irritante. Odeio me irritar com tudo. Odeio ter tanto cuidado com tudo. E ao mesmo tempo não ter realmente cuidado com nada, do modo que interessa. Odeio como meus amigos não me chamam pra fazer as coisas, odeio me tornar a melhor amiga dos meus namorados e por ser tão desapaixonante. Ser romântica-melosa também é uma merda. Me odeio por ser tão normal, tão básica, tão desinteressante, tão mais ou menos. Odeio os meus amigos por gostar tanto deles e sempre me machucar. Detesto mesmo é quando eles me dão oportunidade e eu digo não.

Detesto as minhas fotos, meus logs, minhas histórias, minhas lembranças, odeio viver do passado, das cartas. Odeio minha história. Eu não tenho nada. Eu sou ninguém. E não vou me tornar melhor se eu tiver tatuagem, o cabelo colorido e gostar das músicas da moda. Se eu beber ou me drogar e ser super cool nas festas. Eu não sou legal, por dentro. Eu sou um porre. O mundo me odeia e eu odeio o mundo. Eu não agüento mais. Estou cansada.

7 de julho de 2008

Musidora Stakes

Vi isso num blog e estou propagando a 'brincadeira', até porque não estou conseguindo escrever nada mesmo...

1) acesse este link da Wikipedia - o título da primeira página aleatória que aparecer será o nome da sua banda.

2) depois clique nesse link - as últimas quatro palavras da frase que aparecer formarão o título do seu disco.

3) por fim, vá a esta página do Flickr - a terceira foto, não importa qual seja, será a capa do seu disco.



me parece cd do tipo Enya! :P
NãoPerturbe.wordpress

19 de junho de 2008

Plebiscito

[Ensino superior]

ALUNOS DA UFRN REALIZAM PLEBISCITO SOBRE O REUNI
Programa do governo de melhorias na universidade federal desagrada estudantes, que prevêem a diminuição na qualidade de ensino

O plebiscito sobre o REUNI está acontecendo em nível nacional e foi organizado na UFRN nos dias 04 e 05 de Junho, nos setores de aulas I e II, por alunos dos cursos de História e Ciencias Sociais, pretendendo trazer à tona a opinião dos estudantes.

O plebiscito no âmbito da UFRN põe em foco, além da discussão sobre o REUNI, também problemas como o projeto de Fundações Estatais de direito privado que, conforme os organizadores, provocará a cobrança de taxas nos serviços realizados ao público pela UFRN, como no Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL.

O REUNI é o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais que, conforme o discurso do presidente da República, Luiz Inácio “Lula” da Silva, veiculado no sítio Acertos de Conta, “o Reuni vai aumentar a carga de trabalho nas universidades federais. A média de alunos por professor vai sair de 12 para 18, e vai ter cursos à noite. Isso significa colocar mais 400 mil jovens, até 2012, nas universidades já existentes, fora as novas que estamos criando, que são 10. Nós estamos fazendo isso porque entendemos que o Brasil não pode jogar fora mais nenhuma oportunidade.” Porém de acordo com Bruno Dantas, aluno do curso de História e um dos organizadores do plebiscito na UFRN “o governo Lula quer aumentar o número de brasileiros formados para melhorar as estatísticas educacionais do país”.

A idéia de abrir a Universidade para a sociedade e aumentar a capacitação tecnológica e humana é uma coisa boa, é a própria razão de ser da Universidade. Na prática, é que o REUNI apresenta seus vários pontos negativos”
Antônio BasílioN. T. de Menezes
Professor e Chefe do Departamento de Filosofia – UFRN

A participação da UFRN no REUNI foi voluntária, onde o CONSUNI – conselho universitário formado por professores, funcionários, o atual reitor, reitores anteriores e representantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) - aprovou a proposta do programa de reestruturação e expansão. Eles decidiram que o projeto irá trazer benefícios como aprimorar a qualidade de ensino e quantidade de ofertas de vagas, oferecendo novas oportunidades.

A UFRN ao entrar no REUNI assume o compromisso de realizar algumas mudanças como a melhoria da graduação, diminuindo a taxa de retenção e evasão, melhorar a formação didático-pedagógica do corpo docente, além de criar 11.171 novas vagas até o ano de 2012. Ela planeja realizar algumas mudanças como contratação de funcionários e 344 professores, reformar a estrutura física para suportar a demanda de novos alunos, sendo prioridade as ações de infra-estrutura. Mas os universitários afirmam que a verba vinda para a reforma não será suficiente para comportar os novos alunos, como por exemplo, construir 250 novas residências universitárias não irá satisfazer a demanda de alunos que se deslocam do interior do estado, assim como a ampliação do restaurante universitário que está prevista para 2010 pode chegar a não acontecer.

O Chefe do Departamento de Filosofia da UFRN e professor de Filosofia Política, Antônio Basílio N. T. de Menezes, diz que “a idéia de abrir a Universidade para a sociedade e aumentar a capacitação tecnológica e humana é uma coisa boa, é a própria razão de ser da Universidade.” Conforme o professor, os blocos que vêm sendo construídos no último ano são de verbas do REUNI que chegaram neste ano de 2008. Dessa verba, cerca de 70% foi para investimentos em infra-estrutura.


Essa verba vem, na prática, para cobrir buracos, suprir as necessidades atuais da própria universidade, já tão sucateada. Depois de resolver esses problemas, a Universidade fica com boa estrutura para os alunos que tem atualmente”
professor Antônio Basílio

Sendo que no Decreto Nº. 6.096, de 24 de abril de 2007, o REUNI assume a meta de graduar 90% de alunos e ampliar a relação de 12 a 18 alunos para cada professor e caso este decreto não seja cumprido nos cinco anos após o inicio do plano a instituição passará a não receber os recursos do programa. “É na prática que começam a aparecer os pontos negativos, a respeito da sobrecarga de trabalho, queda do nível de ensino e falta de espaço”, afirma Antônio.

Diz ainda o professor: “essa verba vem, na prática, para cobrir buracos, suprir as necessidades atuais da própria universidade, já tão sucateada. Depois de resolver esses problemas, a Universidade fica com boa estrutura para os alunos que tem hoje. Mas ela terá que cumprir com o acordo com o governo. Será que ela realmente comporta o nível de crescimento que o REUNI pede?”

Os alunos afirmam que não houve democracia, pois o conselho é composto por 70% de professores e apenas 4 estudantes eleitos pelo DCE, então uniram-se com as seguintes entidades e organizações: DCE UFRN, Sintest, Conlute, Conlutas1, e os Centros Acadêmicos de Comunicação Social, Direito e História, Sindicato dos Bancários, estudantes de ciências sociais, história, geografia e decidiram tentar promover um debate com a universidade e para isso realizaram o plebiscito. Com base na decisão da maioria, tentarão opinar sobre o assunto com a UFRN.

Contudo, o resultado do plebiscito não será considerado apenas nesta instituição uma vez que também está sendo realizado nas demais universidades federais do país. Os resultados serão contabilizados e caso sejam recolhidos 100 mil votos em todo Brasil contra a aprovação do projeto, os Conselhos das universidades terão de rever a sua implantação.





1 Sintest: Sindicato Estadual dos Trabalhadores
em Educação do Ensino Superior;
Conlute: Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes;
Conlutas: Coordenação Nacional de Lutas.

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Reportagem: Analice Soares e Wlly Juliana
Foto: Roberto Luciano

2 de junho de 2008

O Eu e Nada

De repente você se dá conta que virou outra pessoa.
Outro dia mesmo você se definiu: eu gosto disso, odeio aquilo, fulano é o amor da minha vida. Jamais faria assim, sempre reajo assado quando fazem determinada coisa. Mas será que é tão importante assim definir o que se é?

Hoje eu olhei para dentro de mim e não me reconheci, o que encontrei não correspondia à cartilha.

Bem, a realidade não é exatamente o que se traduz na linguagem. Tudo que nós achamos ou temos certeza está baseado em convenções, convenções de denotação, semântica, sintaxe, lógica e medidas. Eu poderia dizer que se eu mudei, e que, portanto, era algo de um jeito e agora sou alguma coisa diferente daquilo, ainda suponho que haja um 'eu' que se mantém. Afinal, ainda estou aqui para falar sobre o que eu era mas não sou mais. Só não creio que analisar a lógica das coisas que afirmamos necessariamente torna a conclusão correspondente ao que é real. O que eu penso que sou ou que defini para ser eu, é tão achismo quanto é o de quem diz que somos assim ou assado. O homem é um animal habitudinário, não é mesmo? Mas não acontece de você surpreender alguém, para o bem ou para o mal, uma vez ou outra? Pois que às vezes podemos surpreender a nós mesmos.

Creio que pode-se dizer que cada ser humano é um composto orgânico em atividade homeostática. Você é aquilo que está sendo enquanto é (credo!). É a experiência disto, a história factual disto. Também é a história romanceada que o composto orgânico em atividade homeostática produz em forma de memória, seja isto você ou outro. Você, ou seja, seu corpo, cria hábitos na forma de atitude e de interpretação do mundo. Vejo a razão como fenômeno natural nos seres humanos, assim como os demais animais fazem o que fazem naturalmente, ainda que o conhecimento seja transmitido de forma muito mais complexa entre os homens.

A pessoa cresce, tem uma série de acontecimentos únicos combinados dentro de si que resultam num ser "distinto". São únicos porque os seres ocupam lugares diferentes no espaço, de modo que terão necessariamente um ângulo de visão diferente, fisicamente falando. Assim como subjetivamente, pois o cérebro de cada um interpretará os fatos de acordo com aquilo que a memória guardara e a inteligência organizara. Mesmo seres como, por exemplo, os insetos que, suponho, não tem consciência de si, existem, modificam o espaço e a história, têm a sua própria história factual (nasceram em tal lugar, em tal momento, antes, depois e durante alguma coisa); e mesmo que não tenha ninguém narrando os acontecimentos de sua existência, ele está lá. Os homens também são quem são independente de ter alguém registrando sua história. Se todas as pessoas perdessem a memória ao mesmo tempo, isso não mudaria tudo o que aconteceu antes. Bem, naquilo que você é, há uma capacidade de organizar o mundo de modo quese possa até manipulá-lo. Você supõe, através de observação, que A → B, ou que x se segue de y. No que concerne à ciência, é quase sempre batata! Ainda que, seguindo o filósofo Hume, essa ligação entre fatos é coincidência, e nada garante que amanhã o sol vai realmente aparecer do mesmo jeito que todos os dias anteriores desde que as coisas passsaram a serem assim. Com as pessoas é semelhante, diz-se que ao comer comida estragada, passa-se mal, e é quase sempre assim, mas não necessariamente. Acreditamos, por diferentes motivos, e tal pessoa é desprezível e vai causar mal estar na festa, e no entanto ela se mostra maravilhosa e todos a adoram! Os sentimentos podem mudar tanto que às vezes até parece-me banal. Mas faz parte do ser humano agarrar-se a certezas: isso vai acontecer! Fulano agirá assim! Eu sou desse modo!; a manipulação dos conhecimento gerados acerca das coisas que se repetem é importante para a sociedade, mas não é uma verdade absoluta. Ter conhecimento da incerteza de nada é algo agonizante - o próprio tempo é uma convenção; há quem diga que tudo ocorre ao mesmo tempo, que tudo está acontecendo, e que a sucessão temporal é o modo como nossos cérebros têm para filtrar a realidade e tentar compreendê-la!

Desse modo, nos afastamos cada vez mais do que pensamos ser. Não nasci no dia 23, quem vem depois do 22. Setembro não existe, nem o ano 2008. E o modo misterioso no qual as pessoas vivem na memória coletiva - um músico, um escritor, uma personagem histórica, sua avó...-, mesmo quando o referente orgânico já se desfez? Isso faria sentido, realmente, se não houvesse passagem do tempo. Pois que apesar da minha mente entender que minha avó era divertida e, contudo, não posso mais tocá-la porque seu corpo não existe mais, sua memória é sua existência atual, pois na não-passagem do tempo, ela e eu coexistimos.

Apesar de toda essa reflexão filósofo-biológica, como poderíamos aplicar a susposta compreensão da realidade última à realidade imediata? Afinal, o processo neurológico do meu corpo prosseguirá suas análises, armazenará modelos cognitivos e premeditará acontecimentos. Continuará a concluir que sou tal adjetivo, e que uma outra pessoa é outro adjetivo porque ela afirma gostar de determinada coisa. Talvez a vantagem esteja em ser ator e platéia de si mesmo. Você e eu continuaremos vivendo, mas eu posso me afastar virtualmente - até certo ponto - e ver nossa existência sem adjetivos e implicações. Um puro contemplar. O meu eu se torna algo tão misterioso e ao mesmo tempo tão compreensível, que obviamente não posso expressar em palavras, pois elas serão sempre cortes da realidade. Parece com o que se diz sobre Deus - não no sentido do princípio que tudo rege, mas na simplesmente existência não-temporal e não-adjetivável.- Será que, no fundo, os homens compreendem a realidade última e a denominam de Deus?

Para mim, a importância desse tipo de reflexão é concluir que não: definir o que se é não é tão importante assim. Na sociedade, no momento em somos atores, agrupamo-nos de acordo com o que nos interessa, agimos de acordo com os objetivos que escolhemos e andamos na linha do tempo que traçamos. Contudo, é a certeza ou ainda a certeza nenhuma de não ser aquilo que se definiu que é importante, é o que se deve descobrir quando se olha para dentro de si - e eu sei que não sou a única a sentir isso e, então, como um bom ser humano, universalizo -, ter a consciência sentida e não-verbal que é o não denotar.

(é o nada. O nada cheio de existência. é o Deus vazio de sentido e cheio de ser, São apenas maneiras de tentar falar sobre essa compreensão)

10 de fevereiro de 2008

Depois de um ano, alguma coisa mudou?

Quatro dias. Quatro dias completos. Quatro dias e mais algumas horas puramente caseiras. Mentira! Saí para pegar as cartas na caixa de correio, e para isso precisei dar cerca de dez passos ida-e-volta até o condomínio cujo portão de entrada fica do lado da minha casa.
Quatro dias intensos! Descobri uma palavra nova que traduz que diabos foi intenso nesses dias: hipocondria. Seria eu uma descendente de Brás Cubas? Ainda bem que não li as Memórias Póstumas antes, seria como dar adubo e agüinha para a minha própria flor amarela. Acho que isso soa meio auto-piedoso, esse papo de hipocondria, mas é minha sincera visão realista sobre minha vida, e olha só, dizem que sou bastante perspicaz! Também dizem que sou pessimista, porém é esse o meu método Como Não Ter Todas as Suas Expectativas Jogadas no Excremento (Não Sendo Isso Bom Pois Expectativa Não É Planta).
Claro que quando se está amando (um namorado, um trabalho, computador novo, qualquer coisa), o pessimismo-realismo ajuda a manter o pé no chão, a não criar expectativas estapafúrdias ou positivistas demais. É como nas amizades:
- Oh, fulano nuuuuuuunca faria isso!
Sendo que fulano provavelmente fará. Porque por mais que os bons amigos sejam prudentes e corretos – ou seja, leais a você; ou seja, raridades -, atenciosos e todos aqueles adjetivos felizes, eles não são perfeitos e, ora, faça o favor de me contar se descobrir alguém que NUNCA aja como uma velha fofoqueira do interior! A amizade não está na perfeição moral dos seus amigos, mas em como você lida com as imperfeições deles (e eles com as suas, claro). Enfim: o pessimismo-realismo me ajuda a não ficar mais tão horrorizada com as atitudes das outras pessoas. O problema é que as minhas próprias atitudes ficam frouxas (não que eu me torne uma velha fofoqueira; mas se o amigo não me der atenção eu estarei cagando e andando para ele. E se ele der atenção e eu não estiver afim de nada, eu ficarei na minha. Ultimamente eu estou assim meio revoltada. O mais interessante é que ninguém está se importando com isso, e é aí que eu fico ainda mais na minha). Ah, mas eu não estou amando nada, então o pessimismo começa a me deixar meio deprimida, deprimida, até que eu fico nesse grande nada. Nessa semana toda tive apenas três ligações telefônicas, e rápidas. Não tive vontade de falar com mais ninguém. Silêncio. Acordada, fiquei praticamente 87% do tempo sozinha (que precisão!).
Estou perdendo o traquejo social, com um papo mamãe-quero-ser-intelectual, sem paciência com as pessoas e muito menos simpática. Ontem eu passei horas agradáveis com alguns amigos no shopping, moderadamente agradáveis porque eles são legais, eu acredito ter sido legal no mínimo aceitável para ser aceita como companhia de alguém. Depois de quatro horas juntos, percebi que minha cota de gentilezas tinha acabado, me despedi e voei para a parada de ônibus. Tive vontade de matar as pessoas de lá. Todos pareciam ridículos, e aqueles olhares de “que menina magra”, “que grande”, “que espinha feia”, “que meia ridícula”, “que garota estranha”, “quantas sacolas na mão dela”. Olha só: eu não ando com saco para isso não! Acho que vou começar a dar o dedo quando ficarem olhando muito pra mim.
(eu sei que a ridícula sou eu, não eles. Sou eu a incapaz de dar um sorriso para as pessoas e de ignorar suas pequenas atitudes provincianas)
Além do mais, acho que estou ficando louca. É que quando você equilibra estudos e vida social, as coisas ficam mais suaves e normais. Acontece que, nessa fase Power Introspecção 3001, a única coisa que me distrai é estudar. Descobertas científicas do século XX? Oba. As de astronomia são as que mais me empolgam. História do Rio Grande do Norte? Uau. Sabia que Café Filho (presidente após o suicídio de Vargas) é potiguar? Também comprei um sabonete ótimo para o rosto e dois alteres de dois quilos cada: Aureliano Buendía e Gerineldo Márquez. O ápice da minha diversão solitária foi catar no meu dicionário velho e enoooorme palavras desconhecidas que eu li recentemente. Depois de dezoito anos de solidão, essa introspecção não é nenhuma novidade. Eu vou remoer o meu mau-humor até o último pedaço e sairei vitoriosa de mim mesma! Mas eu preciso ir até o final, o que não é tão ruim, pois saber ficar só também é amadurecer. Espero sinceramente que meus amigos não liguem para a minha frieza atual. Simplesmente estou incapaz de distribuir amor, e eles têm uma parcela de culpa nisso.
Escrevi isso há um ano e poucos dias. É incrível notar que, ao mesmo tempo em que muito está diferente, está muito parecido também. "Tudo isso tem um profundo sentido, e bem o queria dizer - mas esqueci a palavra" (Tao Yuan-ming)

26 de janeiro de 2008

Sísifo nordestino

beber, cair, levantar
beber, cair, levantar
beber, cair, levantar
beber, cair, levantar
beber, cair, levantar
beber, cair, levantar...