10 de fevereiro de 2008

Depois de um ano, alguma coisa mudou?

Quatro dias. Quatro dias completos. Quatro dias e mais algumas horas puramente caseiras. Mentira! Saí para pegar as cartas na caixa de correio, e para isso precisei dar cerca de dez passos ida-e-volta até o condomínio cujo portão de entrada fica do lado da minha casa.
Quatro dias intensos! Descobri uma palavra nova que traduz que diabos foi intenso nesses dias: hipocondria. Seria eu uma descendente de Brás Cubas? Ainda bem que não li as Memórias Póstumas antes, seria como dar adubo e agüinha para a minha própria flor amarela. Acho que isso soa meio auto-piedoso, esse papo de hipocondria, mas é minha sincera visão realista sobre minha vida, e olha só, dizem que sou bastante perspicaz! Também dizem que sou pessimista, porém é esse o meu método Como Não Ter Todas as Suas Expectativas Jogadas no Excremento (Não Sendo Isso Bom Pois Expectativa Não É Planta).
Claro que quando se está amando (um namorado, um trabalho, computador novo, qualquer coisa), o pessimismo-realismo ajuda a manter o pé no chão, a não criar expectativas estapafúrdias ou positivistas demais. É como nas amizades:
- Oh, fulano nuuuuuuunca faria isso!
Sendo que fulano provavelmente fará. Porque por mais que os bons amigos sejam prudentes e corretos – ou seja, leais a você; ou seja, raridades -, atenciosos e todos aqueles adjetivos felizes, eles não são perfeitos e, ora, faça o favor de me contar se descobrir alguém que NUNCA aja como uma velha fofoqueira do interior! A amizade não está na perfeição moral dos seus amigos, mas em como você lida com as imperfeições deles (e eles com as suas, claro). Enfim: o pessimismo-realismo me ajuda a não ficar mais tão horrorizada com as atitudes das outras pessoas. O problema é que as minhas próprias atitudes ficam frouxas (não que eu me torne uma velha fofoqueira; mas se o amigo não me der atenção eu estarei cagando e andando para ele. E se ele der atenção e eu não estiver afim de nada, eu ficarei na minha. Ultimamente eu estou assim meio revoltada. O mais interessante é que ninguém está se importando com isso, e é aí que eu fico ainda mais na minha). Ah, mas eu não estou amando nada, então o pessimismo começa a me deixar meio deprimida, deprimida, até que eu fico nesse grande nada. Nessa semana toda tive apenas três ligações telefônicas, e rápidas. Não tive vontade de falar com mais ninguém. Silêncio. Acordada, fiquei praticamente 87% do tempo sozinha (que precisão!).
Estou perdendo o traquejo social, com um papo mamãe-quero-ser-intelectual, sem paciência com as pessoas e muito menos simpática. Ontem eu passei horas agradáveis com alguns amigos no shopping, moderadamente agradáveis porque eles são legais, eu acredito ter sido legal no mínimo aceitável para ser aceita como companhia de alguém. Depois de quatro horas juntos, percebi que minha cota de gentilezas tinha acabado, me despedi e voei para a parada de ônibus. Tive vontade de matar as pessoas de lá. Todos pareciam ridículos, e aqueles olhares de “que menina magra”, “que grande”, “que espinha feia”, “que meia ridícula”, “que garota estranha”, “quantas sacolas na mão dela”. Olha só: eu não ando com saco para isso não! Acho que vou começar a dar o dedo quando ficarem olhando muito pra mim.
(eu sei que a ridícula sou eu, não eles. Sou eu a incapaz de dar um sorriso para as pessoas e de ignorar suas pequenas atitudes provincianas)
Além do mais, acho que estou ficando louca. É que quando você equilibra estudos e vida social, as coisas ficam mais suaves e normais. Acontece que, nessa fase Power Introspecção 3001, a única coisa que me distrai é estudar. Descobertas científicas do século XX? Oba. As de astronomia são as que mais me empolgam. História do Rio Grande do Norte? Uau. Sabia que Café Filho (presidente após o suicídio de Vargas) é potiguar? Também comprei um sabonete ótimo para o rosto e dois alteres de dois quilos cada: Aureliano Buendía e Gerineldo Márquez. O ápice da minha diversão solitária foi catar no meu dicionário velho e enoooorme palavras desconhecidas que eu li recentemente. Depois de dezoito anos de solidão, essa introspecção não é nenhuma novidade. Eu vou remoer o meu mau-humor até o último pedaço e sairei vitoriosa de mim mesma! Mas eu preciso ir até o final, o que não é tão ruim, pois saber ficar só também é amadurecer. Espero sinceramente que meus amigos não liguem para a minha frieza atual. Simplesmente estou incapaz de distribuir amor, e eles têm uma parcela de culpa nisso.
Escrevi isso há um ano e poucos dias. É incrível notar que, ao mesmo tempo em que muito está diferente, está muito parecido também. "Tudo isso tem um profundo sentido, e bem o queria dizer - mas esqueci a palavra" (Tao Yuan-ming)

4 comentários:

  1. Mas você realmente É [terrivelmente] perspicaz...

    Invejo sua capacidade analítica.

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  2. vou comentar só pra concordância verbal do seu link ficar aceitável.
    ;P

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  3. e aquele seu post paw do livro de lógica foi deletado =(
    era tão legal...

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  4. O blog do Charles Manson tinha um post assim...

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E aí?