2 de outubro de 2009

Pega a doida!

A cada dia que passa me convenço que serei uma hippie louca quando velha. Já tô aderindo às pirações, apenas ainda banco a urbana nas vestimentas.

A novidade agora é abordar estranhos na rua.

- Cadê o saquinho e a pá pra catar o cocô do seu cachorro, hein? HEIN?

- Por que você não enfia esse lixo no cu da sua casa?

Tá, essa última eu nunca falei. Natal já não é tão segura... mas rola uns clássicos "educação mandou lembranças".

Toda vez que vou a Ponta Negra (praia urbana) ou mesmo em alguns caminhos próximos da minha casa, fico doida, DOIDA pra recolher o lixo no chão. É um negócio que me incomoda profundamente; já me cansei de só resmungar e o método POP de invisibilidade - problema de outra pessoa - não tá funcionando bem.

Recentemente eu saí da concha e recolhi uma garrafa plástica que estava atrapalhando o trânsito num dia de chuva, num cruzamento do bairro Petrópolis. Quase fui atropelada e atrapalhei eu mesma o trânsito, heh. Posteriormente catei um cabo de alumínio (tipo de vassoura) retorcido que estava no meio de uma avenida, alunos de um colégio haviam colocado lá para se divertirem com o barulhão que fazia. Mas aquilo era uma tremenda sacanagem com os donos dos carros e os velhos no ponto de ônibus estavam com medo daquilo voar na cabeça de alguém. Como eu estava bastante arrumada nesse dia, nenhum pirralho mexeu comigo e eu me limitei a dar um olhar firme e reprovador. Quando eu for velha e hippie, provavelmente baterei o cabo na cabeça deles e darei umas lições de moral. Fato!

UPDATE 20/1/2010: Virei gari na praia da Redinha.

28 de agosto de 2009

Da Imbecilidade Humana


Há um certo hábito em Natal, uma atitude realmente freqüente, que é de falar mal da cidade, da cultura, das pessoas, e culpar qualquer merda que acontece pelo simples fato de acontecer em Natal.

Exemplo I:

- Oh my God, um pombo cagou na minha blusa! Só podia ser em Natal, odeio essa cidade! Grr.

Exemplo II:

- uááá, o Flamengo perdeu! Culpa dessa cidade bosta, Natal é um cuuuu. (??)

Assim como na Polishop, não é só isso. Ao contrário de cidades pernambucanas, a cultura nordestina é quase totalmente rejeitada pelos famosos pseudointelectuais potiguares. Pra mim, francamente, há uma diferença gigante entre ser culto e ser cult. Ser cult é cool, é fazer de conta que é made in England e recusar qualquer bem cultural que se refira à própria terra. Contrastando com isso, tem as pessoas mais humildes, as quais normalmente não têm acesso a bens culturais sejam locais ou internacionais, muitas vezes se contentam em ouvir músicas de qualidade baixa e extremamente acessíveis. Tem também um terceiro grupo, das pessoas mais bem de vida que insistem em se limitar a ouvir essas músicas tacanhas, independente do estilo. O tipo de música vai variar de local para local. Como por acaso estamos no Nordeste, o estilo musical mais comum é o forró, seguido do axé music.

Em última instância, aqueles que dependem da mídia não são necessariamente burros. Já foi comprovado cientificamente que as pessoas aprendem a gostar de músicas diferentes, é questão de costume (fonte). É comprovado também que o ser humano se acomoda. Tem gente que se acomoda com heavy metal ultra-mega-advanced bem trabalhado e não ouve mais porra nenhuma na vida: FAIL. Tem gente que se acostuma com Saia Rodada e seu maior hit, do sísifo nordestino - beber, cair, levantar! - e não faz questão de algo muito diferente.

Mudei totalmente minha perspectiva depois de conhecer melhor (ui!) minha faxineira. Outro dia mesmo ela estava ouvindo insistentemente um bregão horrível, o instrumental só devia ter duas notas. Acontece que Neide é fã de Raul Seixas e passa horas diárias ouvindo as músicas lentas do X Japan. Outro dia ela pediu pra passar pro celular dela várias músicas (umas bem bonitas) que ela ouviu aqui em casa, cantorolou uns lalalás e eu encontrei algumas. Neide é analfabeta. É um produto do seu meio, mas também tem personalidade própria; muito embora ela não saia por aí com camiseta do Raul, nem falando sobre os artistas "MARA" que ela escuta.

Mas então, "forró é coisa de pobre na carteira e no espírito", dizem. Provavelmente estes seres nunca ouviram a Saga de um vaqueiro, do grupo Catuaba com Amendoim, antes de fazer uma afirmação babaca dessas. Seus All Star e seus óculos wayfarer não merecem tamanha manifestação nordestina. Porque, né...? Ser nordestino é tãaao porteiro style!

A novidade, meus leitores, é que ser pobre por si só não torna ninguém inferior em sentidos além do extritamente monetário. E quanto ao espírito, quem é você pra dizer isso? Se essa pessoa curte rock, vou colocar umas certas bandas ridículas pra ela ouvir. Quero ver ela generalizar e dizer que rock é um cu. Quero ver!

Pode até existir "indies" que reconhecem músicas boas entre os estilos regionais. Estes talvez não façam questão de ficar falando do que gostam de ouvir além do que o grupo social deles exige, assim como Neide, mas eu acho que não conheci nenhum. Só ouço os imbecis, mesmo.

Voltando às pessoas estritamente de Natal. Ah sim, elas falam mal de tudo. Daí hoje eu me rendi e vou seguir a manifestação cultural local que consiste em falar mal da cidade, da cultura (que cultura?), das pessoas... principalmente das pessoas. Ô gentinha!

Eis que eu estou caminhando tranqüilamente pela Av. Abel Cabral após comprar molho de tomate na conveniência de um posto de gasolina. É uma rua de mão dupla e tem canteiros separando as direções. Eu olho para esquerda e não vem nenhum carro, ô beleza! Até ando devagar. Quando estou na metade do caminho da primeira mão, ouço buzinas e o barulho de carro acelerando; olho com a visão periférica para a esquerda e, novamente, nenhum carro! Mas olha só que legal, vem um destrambelhando pela direita - na contra-mão, obviamente - com sede de sangue. Eu fiquei tão assustada que não sabia se ia pra trás ou pra frente: fiz os dois. O cara freia já faltando um milímetro pra encostar na minha perna, eu dou um passo pra trás e levanto os braços com a maior cara de interrogação que eu consigo fazer, porque falar que é bom não sai nada além de "q-q-que..."

O mais interessante de tudo é a reação do homem. Sabem qual foi?

Nenhuma.

Um homem num carro esporte desses chiques, sério e compenetrado, olhando para frente. Parecia que eu era invisível. Ou que ele estava certíssimo e, para não arranjar briga, ele ia fazer a bondade de não me xingar. Como eu pude ousar caminhar à frente de seu Crossfox ou similar, naquele momento tão único em que ele manobrava na contra-mão?

Nem pra pedir desculpas!! Caralho!!!! Ele nem olhou pra minha cara!!!!

Tenho certeza que ele só parou porque se tocou que levaria um processo por atropelar estando na mão errada. Isto é, se ele não me atropelasse e me deixasse agonizando na rua, só. O mais ridículo é que ele não foi pra outra mão para entrar numa rua do lado de lá, pois no fim ele voltou pra via da direção certa. E eu fiquei lá, estirando o dedo, gritando feito uma louca (meio atrasada) sobre o quanto ele era imbecil.

Se o ódio me consumia no começo desse texto, agora só ficou a tristeza e sensação de ter o meu espírito local esmagado, estraçalhado. Eu vejo meu funeral, minha mãe chorando, komm susser tod tocando. Sério, eu vi a morte de perto e disse pra mim mesma: é agora!

Não foi. Amém!

E o que meu quase atropelamento tem a ver com forró? Ah, cara, sei lá. Na minha cabeça estava tudo interligado, porém faz muito tempo que eu não escrevo nem meu nome e minha cabeça está instável demais para que eu possa organizar o texto. Eu só queria desabafar. Liguem os pontos, vocês aí.

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