19 de junho de 2008

Plebiscito

[Ensino superior]

ALUNOS DA UFRN REALIZAM PLEBISCITO SOBRE O REUNI
Programa do governo de melhorias na universidade federal desagrada estudantes, que prevêem a diminuição na qualidade de ensino

O plebiscito sobre o REUNI está acontecendo em nível nacional e foi organizado na UFRN nos dias 04 e 05 de Junho, nos setores de aulas I e II, por alunos dos cursos de História e Ciencias Sociais, pretendendo trazer à tona a opinião dos estudantes.

O plebiscito no âmbito da UFRN põe em foco, além da discussão sobre o REUNI, também problemas como o projeto de Fundações Estatais de direito privado que, conforme os organizadores, provocará a cobrança de taxas nos serviços realizados ao público pela UFRN, como no Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL.

O REUNI é o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais que, conforme o discurso do presidente da República, Luiz Inácio “Lula” da Silva, veiculado no sítio Acertos de Conta, “o Reuni vai aumentar a carga de trabalho nas universidades federais. A média de alunos por professor vai sair de 12 para 18, e vai ter cursos à noite. Isso significa colocar mais 400 mil jovens, até 2012, nas universidades já existentes, fora as novas que estamos criando, que são 10. Nós estamos fazendo isso porque entendemos que o Brasil não pode jogar fora mais nenhuma oportunidade.” Porém de acordo com Bruno Dantas, aluno do curso de História e um dos organizadores do plebiscito na UFRN “o governo Lula quer aumentar o número de brasileiros formados para melhorar as estatísticas educacionais do país”.

A idéia de abrir a Universidade para a sociedade e aumentar a capacitação tecnológica e humana é uma coisa boa, é a própria razão de ser da Universidade. Na prática, é que o REUNI apresenta seus vários pontos negativos”
Antônio BasílioN. T. de Menezes
Professor e Chefe do Departamento de Filosofia – UFRN

A participação da UFRN no REUNI foi voluntária, onde o CONSUNI – conselho universitário formado por professores, funcionários, o atual reitor, reitores anteriores e representantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes) - aprovou a proposta do programa de reestruturação e expansão. Eles decidiram que o projeto irá trazer benefícios como aprimorar a qualidade de ensino e quantidade de ofertas de vagas, oferecendo novas oportunidades.

A UFRN ao entrar no REUNI assume o compromisso de realizar algumas mudanças como a melhoria da graduação, diminuindo a taxa de retenção e evasão, melhorar a formação didático-pedagógica do corpo docente, além de criar 11.171 novas vagas até o ano de 2012. Ela planeja realizar algumas mudanças como contratação de funcionários e 344 professores, reformar a estrutura física para suportar a demanda de novos alunos, sendo prioridade as ações de infra-estrutura. Mas os universitários afirmam que a verba vinda para a reforma não será suficiente para comportar os novos alunos, como por exemplo, construir 250 novas residências universitárias não irá satisfazer a demanda de alunos que se deslocam do interior do estado, assim como a ampliação do restaurante universitário que está prevista para 2010 pode chegar a não acontecer.

O Chefe do Departamento de Filosofia da UFRN e professor de Filosofia Política, Antônio Basílio N. T. de Menezes, diz que “a idéia de abrir a Universidade para a sociedade e aumentar a capacitação tecnológica e humana é uma coisa boa, é a própria razão de ser da Universidade.” Conforme o professor, os blocos que vêm sendo construídos no último ano são de verbas do REUNI que chegaram neste ano de 2008. Dessa verba, cerca de 70% foi para investimentos em infra-estrutura.


Essa verba vem, na prática, para cobrir buracos, suprir as necessidades atuais da própria universidade, já tão sucateada. Depois de resolver esses problemas, a Universidade fica com boa estrutura para os alunos que tem atualmente”
professor Antônio Basílio

Sendo que no Decreto Nº. 6.096, de 24 de abril de 2007, o REUNI assume a meta de graduar 90% de alunos e ampliar a relação de 12 a 18 alunos para cada professor e caso este decreto não seja cumprido nos cinco anos após o inicio do plano a instituição passará a não receber os recursos do programa. “É na prática que começam a aparecer os pontos negativos, a respeito da sobrecarga de trabalho, queda do nível de ensino e falta de espaço”, afirma Antônio.

Diz ainda o professor: “essa verba vem, na prática, para cobrir buracos, suprir as necessidades atuais da própria universidade, já tão sucateada. Depois de resolver esses problemas, a Universidade fica com boa estrutura para os alunos que tem hoje. Mas ela terá que cumprir com o acordo com o governo. Será que ela realmente comporta o nível de crescimento que o REUNI pede?”

Os alunos afirmam que não houve democracia, pois o conselho é composto por 70% de professores e apenas 4 estudantes eleitos pelo DCE, então uniram-se com as seguintes entidades e organizações: DCE UFRN, Sintest, Conlute, Conlutas1, e os Centros Acadêmicos de Comunicação Social, Direito e História, Sindicato dos Bancários, estudantes de ciências sociais, história, geografia e decidiram tentar promover um debate com a universidade e para isso realizaram o plebiscito. Com base na decisão da maioria, tentarão opinar sobre o assunto com a UFRN.

Contudo, o resultado do plebiscito não será considerado apenas nesta instituição uma vez que também está sendo realizado nas demais universidades federais do país. Os resultados serão contabilizados e caso sejam recolhidos 100 mil votos em todo Brasil contra a aprovação do projeto, os Conselhos das universidades terão de rever a sua implantação.





1 Sintest: Sindicato Estadual dos Trabalhadores
em Educação do Ensino Superior;
Conlute: Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes;
Conlutas: Coordenação Nacional de Lutas.

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Reportagem: Analice Soares e Wlly Juliana
Foto: Roberto Luciano

Um comentário:

  1. Gostei da reportagem, ta bem apurada, só tem uns errinhos quanto a linguagem jornalística, mas vc estuda filosofia né, então se perdoa :)

    bem, sobre o assunto em si. O plebescito foi uma mentira partidária. Isso foi ordem da CONLUTAS nacional, ligada ao PSTU, pessas que acreditam que Lula é a personificação do Demo e tomam atitudeas baseadas nesse preceito e não em fatos concretos.

    Fato concreto numero 1: a UFRN receberá seis vezes mais verbas do que recebe anualmente, por causa do REUNI. Será que com isso, não dá pra fazer uma boa ampliação da estrutura fisica em cinco anos? Se não der, é incompetencia da administração da universidade.

    Fato concreto numero 2: a ANDIFES (sindicato dos reitores) depois de receber a proposta do REUNI, apresentou uma contra-proposta em que aceitavam o plano desde que não houvesse mudança na relação professor-aluno e de que a verba fosse garantida para as universidades que iriam entrar no programa. O governo aceitou e inclusive assinou um documento garantindo o envio de verbas. Ou seja, nenhuma universidade é obrigada a aumentar a relação.

    Fato concreto numero 3: O REUNI muda o esquema de contratação de professores. Agora é por equivalência. Exemplo: se um curso tem uma vaga de um professor DE (dedicação exclusiva, 40h), ele pode trocar, por exemplo, por 3 professores de 20h, mais específicos. Para cursos mais técnicos, como o meu, isso é muito bom.

    Fato concreto numero 4: O principal defeito do REUNI são os cursos de ciclos breves. Como é o BAC (bacharelado de ciencias e tecnologia) que prevê uma formação tecnóloga de apenas 3 anos e depois um reingresso para o aluno. É algo muito vazio e o medo é quanto a qualidade do ensino. Ah, os cursos de ciclos breves terão também uma quantidade expressiva de alunos. A da UFRN, por exemplo, serão 250 por sala.

    Fato concreto numero 5: O DCE UFRN promoveu e divulgou, pelo menos, em 5 vezes diferentes reuniões para debater o REUNI, aceitando todas as opiniões. Eu mesmo participei de umas três. O PSTU/CONLUTAS não moveu um palito para convocar os alunos para essas reuniões.

    Na minha opinião, o movimento estudantil deveria se concentrar em fiscalizar as contratações e obras do REUNI e não de ficar choramingando por algo que vai acabar sendo bom para todo mundo.

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